Restaurando os solos amazônicos: um desafio compartilhado por agricultores e pesquisadores

05/05/2025
Na Amazônia brasileira, a restauração de solos degradados tornou-se uma questão fundamental para garantir a produção de alimentos, limitar o desmatamento e apoiar a agricultura familiar. Pesquisadores do ÈȲ©ÌåÓý, da Universidade Federal do Pará, da Universidade Federal Rural da Amazônia e do Museu Emilio Goeldi estão trabalhando com agricultores familiares no estado do Pará para preservar a saúde do solo e promover práticas agrícolas sustentáveis.
Oficina de saúde do solo, na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) © Enora Le Calvé, Fefaccion, Cirad
Oficina de saúde do solo, na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) © Enora Le Calvé, Fefaccion, Cirad

Oficina de saúde do solo, na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) © Enora Le Calvé, Fefaccion, Cirad

Saúde do solo: um conceito holístico para o diálogo com a sociedade

Durante muito tempo, o solo foi visto apenas como um suporte para as plantas e caracterizado por sua fertilidade física e química. No entanto, além de sua capacidade de apoiar a produção vegetal, ele fornece vários serviços ecossistêmicos, como o armazenamento de carbono e a regulação da água.  É por isso que, a partir dos anos 2000, os pesquisadores desenvolveram uma nova abordagem mais global chamada “saúde do solo”, que leva em conta os aspectos físicos, químicos e biológicos do solo. Atualmente, o solo é considerado uma entidade viva e complexa, essencial para a manutenção da vida em nosso planeta.  A analogia do solo com um organismo vivo e o uso do termo “saúde do solo” também permitiram que os pesquisadores abordassem as várias questões relacionadas à conservação do solo com os agricultores de maneira simples.

É importante usar termos que a gente consiga diálogo com a sociedade. Então a ideia de trazer essa perspectiva, esse termo saúde do solo, ele também contribui para a gente ampliar esse dialogo da ciência com a sociedade” declara Edfranklin Moreira da Silva, professor e pesquisador da Universidade Federal do Pará “Como eu trabalho com agricultores familiares e tenho muita essa perspectiva de uma ciência cidadão.”

Avaliando a saúde do solo: desenvolvendo indicadores simples que todos podem usar

No Brasil, no estado do Pará, Edfranklin, professor da UFPA e Raphaël Marichal, pesquisador em ecologia do solo e agroecologia no ÈȲ©ÌåÓý, estão estudando as diferentes práticas agrícolas e seu impacto nos agroecossistemas da Amazônia. Eles estão trabalhando com agricultores familiares para avaliar o impacto de suas práticas na saúde do solo e discutir com eles quais práticas devem ser favorecidas para manter um solo saudável capaz de continuar a fornecer serviços ecossistêmicos.

Para avaliar a saúde do solo, vários indicadores simples e de baixo custo podem ser usados pelos agricultores. Em particular, Edfranklin trabalha com o Diagnóstico Rápido da Estrutura do Solo (DRES), uma metodologia desenvolvida pela Embrapa, que permite analisar a estrutura do solo. Ao analisar o tamanho e a distribuição dos agregados do solo contidos em um monólito de solo retirado da superfície da terra cultivada (25 cm de profundidade), é possível atribuir uma nota de qualidade da estrutura do solo. A qualidade da estrutura do solo é usada para avaliar, entre outras coisas, o estado de conservação do solo, sua capacidade de absorver água, a atividade biológica do solo, etc...

 

Raphaël Marichal, ÈȲ©ÌåÓý e Edfranklin Moreira da Silva, UFPA, treinamento em indicadores de saúde do solo DRES e TSBF, Belém, Pará © Enora Le Calvé, Fefaccion, Cirad

Raphaël Marichal, ÈȲ©ÌåÓý e Edfranklin Moreira da Silva, UFPA, treinamento em indicadores de saúde do solo DRES e TSBF, Belém, Pará © Enora Le Calvé, Fefaccion, Cirad

“Há outros indicadores baseados na biologia do solo“, explica Raphaël Marichal. ”O método TSBF* consiste em avaliar a densidade de macroinvertebrados do solo. Os macroinvertebrados do solo são atores e indicadores da saúde do solo. Por exemplo, as minhocas ajudam a decompor a serapilheira e liberam nutrientes que podem ser absorvidos diretamente pelas plantas. Eles produzem fezes ricas em carbono, ajudando assim a sequestrar o carbono no solo". Outros testes, que envolvem o enterramento de tiras com buracos preenchidos por celulose ou cuecas de algodão branco, são usados para avaliar a atividade biológica do solo. “Todos esses indicadores, que são relativamente simples, fornecem um quadro geral da saúde do solo”, diz Raphaël.

*Tropical Soil Biology and Fertility

Trabalhando com agricultores familiares na Amazônia para proteger e restaurar os solos

Há vários anos, o ÈȲ©ÌåÓý vem trabalhando com várias instituições brasileiras em projetos de saúde do solo, particularmente em conexão com a restauração de terras degradadas na Amazônia. Em particular, Edfranklin e Raphaël trabalharam juntos no projeto Sustenta & Inova, durante o qual realizaram sessões de treinamento sobre indicadores de saúde do solo para estudantes da especialização “Restauração ambiental e sistemas agroflorestais na Amazônia” ofertada pela UFPA.

Em março de 2025, no âmbito do projeto FEFACCION, foram realizadas duas oficinas de treinamento sobre indicadores de saúde do solo, uma com agricultores, organizada com a prefeitura de Mãe do Rio, no Estado do Pará, e outra com estudantes de mestrado ou doutorado, organizada na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), o que ajudou a lançar novas iniciativas de cooperação. Em nível regional, a prefeitura de Mãe do Rio demonstrou grande interesse em continuar a realizar iniciativas sobre a saúde do solo e está disposta a desenvolver uma parceria.

No âmbito acadêmico, foram realizadas discussões entre pesquisadores do ÈȲ©ÌåÓý, da UFPA, da UFRA e do Museu Emilio Goeldi, para criar um grupo de pesquisa que trabalhe com a questão da saúde do solo na Amazônia. Um dos projetos previstos é a criação de um aplicativo para celular para agricultores que permitirá calcular um índice global da saúde de seus solos com base em uma análise da macrofauna do solo. Usando esse , baseado no trabalho de pesquisa de Eliana Hurtado Lugo e Elena Velasquez Ibañez, da Universidade da Colômbia, e Patrick Lavelle, professor emérito da Universidade de Sorbonne, os agricultores poderiam, por exemplo, receber pagamento por serviços de ecossistema baseados no solo.

Reunião de parceiros sobre o tema da saúde do solo: Daniel Pinheiro, UFRA, Ana Beatriz da Silva Alves, UFPA, Edfranklin Moreira da Silva, UFPA, Raphaël Marichal, Cirad, Norberto Noronha, UFRA, Patrick Lavelle, Professor Emérito da Universidade de Sorbonne, Belém, Pará

Reunião de parceiros sobre o tema da saúde do solo: Daniel Pinheiro, UFRA, Ana Beatriz da Silva Alves, UFPA, Edfranklin Moreira da Silva, UFPA, Raphaël Marichal, Cirad, Norberto Noronha, UFRA, Patrick Lavelle, Professor Emérito da Universidade de Sorbonne, Belém, Pará