Saúde do solo: um conceito holístico para o diálogo com a sociedade
Durante muito tempo, o solo foi visto apenas como um suporte para as plantas e caracterizado por sua fertilidade física e química. No entanto, além de sua capacidade de apoiar a produção vegetal, ele fornece vários serviços ecossistêmicos, como o armazenamento de carbono e a regulação da água. É por isso que, a partir dos anos 2000, os pesquisadores desenvolveram uma nova abordagem mais global chamada “saúde do solo”, que leva em conta os aspectos físicos, químicos e biológicos do solo. Atualmente, o solo é considerado uma entidade viva e complexa, essencial para a manutenção da vida em nosso planeta. A analogia do solo com um organismo vivo e o uso do termo “saúde do solo” também permitiram que os pesquisadores abordassem as várias questões relacionadas à conservação do solo com os agricultores de maneira simples.
“É importante usar termos que a gente consiga diálogo com a sociedade. Então a ideia de trazer essa perspectiva, esse termo saúde do solo, ele também contribui para a gente ampliar esse dialogo da ciência com a sociedade” declara Edfranklin Moreira da Silva, professor e pesquisador da Universidade Federal do Pará “Como eu trabalho com agricultores familiares e tenho muita essa perspectiva de uma ciência cidadão.”
Avaliando a saúde do solo: desenvolvendo indicadores simples que todos podem usar
Para avaliar a saúde do solo, vários indicadores simples e de baixo custo podem ser usados pelos agricultores. Em particular, Edfranklin trabalha com o Diagnóstico Rápido da Estrutura do Solo (DRES), uma metodologia desenvolvida pela Embrapa, que permite analisar a estrutura do solo. Ao analisar o tamanho e a distribuição dos agregados do solo contidos em um monólito de solo retirado da superfície da terra cultivada (25 cm de profundidade), é possível atribuir uma nota de qualidade da estrutura do solo. A qualidade da estrutura do solo é usada para avaliar, entre outras coisas, o estado de conservação do solo, sua capacidade de absorver água, a atividade biológica do solo, etc...
“Há outros indicadores baseados na biologia do solo“, explica Raphaël Marichal. ”O método TSBF* consiste em avaliar a densidade de macroinvertebrados do solo. Os macroinvertebrados do solo são atores e indicadores da saúde do solo. Por exemplo, as minhocas ajudam a decompor a serapilheira e liberam nutrientes que podem ser absorvidos diretamente pelas plantas. Eles produzem fezes ricas em carbono, ajudando assim a sequestrar o carbono no solo". Outros testes, que envolvem o enterramento de tiras com buracos preenchidos por celulose ou cuecas de algodão branco, são usados para avaliar a atividade biológica do solo. “Todos esses indicadores, que são relativamente simples, fornecem um quadro geral da saúde do solo”, diz Raphaël.
*Tropical Soil Biology and Fertility
Trabalhando com agricultores familiares na Amazônia para proteger e restaurar os solos
Um dos desafios na Amazônia é que os próprios atores da região possam propor iniciativas e políticas que façam sentido para a realidade deles e permitam apoiar suas ações visando mais sustentabilidade. No âmbito do projeto Sustenta & Inova, financiado pela União Europeia para contribuir com as transições sustentáveis na Amazônia, o Cirad, a UFPA, a UFRA e a Embrapa montaram uma especialização universitária em Restauração Ambiental e Sistemas Agroflorestais.
Em março de 2025, no âmbito do projeto FEFACCION, foram realizadas duas oficinas de treinamento sobre indicadores de saúde do solo, uma com agricultores, organizada com a prefeitura de Mãe do Rio, no Estado do Pará, e outra com estudantes de mestrado ou doutorado, organizada na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), o que ajudou a lançar novas iniciativas de cooperação. Em nível regional, a prefeitura de Mãe do Rio demonstrou grande interesse em continuar a realizar iniciativas sobre a saúde do solo e está disposta a desenvolver uma parceria.
Reunião de parceiros sobre o tema da saúde do solo: Daniel Pinheiro, UFRA, Ana Beatriz da Silva Alves, UFPA, Edfranklin Moreira da Silva, UFPA, Raphaël Marichal, Cirad, Norberto Noronha, UFRA, Patrick Lavelle, Professor Emérito da Universidade de Sorbonne, Belém, Pará