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O aumento dos insumos agrÃcolas baseados em micro-organismos: promessa tecnológica e controvérsias na América Latina

Moscas brancas mortas por micoses, Brasil © Pierre Silvie
Como os micro-organismos, bactérias e fungos microscópicos são produzidos, desde o laboratório até o campo?
Por meio de vários projetos de pesquisa, o ÈȲ©ÌåÓý e seus parceiros procuraram entender as condições para o surgimento dessas tecnologias baseadas em bioinsumos, cuja eficácia foi comprovada há muito tempo, mas cujo desenvolvimento, que agora é inegável, é recente. Foi dada atenção especial aos microrganismos, bactérias e fungos microscópicos, que são o foco de intensa esperança e debate. Uma das questões levantadas é como esses microrganismos, originalmente selecionados e cultivados em laboratórios de biotecnologia e unidades de pesquisa, podem ser estendidos ao setor industrial e às fazendas. Levar essas tecnologias para fora do laboratório é um grande desafio.
Desenvolvimento de empresas nacionais de alta qualidade
Ao contrário das moléculas químicas, cuja síntese exige infraestruturas e recursos industriais particularmente caros, a multiplicação de microrganismos é uma operação relativamente acessível. No entanto, a produção de microrganismos com altos padrões de pureza e concentração é um grande desafio, que só pode ser vencido com a adesão a protocolos rigorosos de higiene, produção, contagem e armazenamento.
Muitas empresas latino-americanas estão agora tentando produzir e comercializar microrganismos, sem necessariamente dominar esses protocolos de produção. Em muitos casos, elas não têm aprovação oficial dos departamentos governamentais responsáveis pela regulamentação e certificação de insumos agrícolas, mas isso não as impede de operar localmente nos mercados locais, mantendo uma base de clientes fiéis de agricultores. As principais empresas históricas do setor, algumas das quais estão no mercado há cerca de trinta anos, lamentam a existência desse setor informal, que, segundo elas, prejudica a reputação de suas tecnologias. Elas se orgulham de aderir a protocolos científicos rigorosos, que são essenciais para a produção de qualidade e são o legado de uma colaboração estreita e duradoura com laboratórios de pesquisa.
Biofábricas nas fazendas, no centro da controvérsia
Além do acesso a insumos à base de microrganismos por meio de empresas que comercializam soluções prontas para uso, um segundo modo de acesso a microrganismos está se desenvolvendo rapidamente: a produção agrícola em biofábricas. Isso é promovido por políticas públicas que oferecem serviços específicos de extensão rural, por redes especializadas de agricultores e por empresas que fornecem todos os recursos necessários. Esses recursos incluem cepas bacterianas, meios de cultivo, equipamentos e produtos de higiene, além de consultoria e suporte.
A vantagem para os agricultores da produção na fazenda é que eles podem ter acesso a microrganismos sempre que quiserem, a um preço drasticamente reduzido, uma vez que a biofábrica tenha se pago. No entanto, essas instalações são frequentemente questionadas pela comunidade científica de microbiólogos, que denuncia práticas pouco rigorosas do ponto de vista sanitário, envolvendo o risco de liberação de microrganismos patogênicos e resistentes no meio ambiente. As empresas que promovem essas biofábricas nas fazendas contestam esses riscos. Eles argumentam que são capazes de construir verdadeiros “laboratórios” na fazenda, atendendo aos mais altos padrões científicos e industriais e recrutando microbiologistas treinados nos melhores laboratórios públicos de pesquisa. Seus concorrentes que comercializam soluções prontas para uso também criticam essas biofábricas, obviamente buscando proteger seus mercados e também denunciando a baixa qualidade das soluções produzidas na fazenda e das biofábricas em relação aos padrões que eles mesmos impõem.
O desafio da "laboratorialização" da sociedade
Uma das principais questões ligadas ao desenvolvimento de insumos baseados em microrganismos é a capacidade dos empresários e agricultores de respeitar e replicar os padrões estabelecidos pelos laboratórios de pesquisa especializados em microbiologia e biotecnologia. Esse método de disseminação de tecnologias e inovações não é novo, pois foi descrito na década de 1980 pelo antropólogo de ciência e tecnologia Bruno Latour, com base em seu trabalho sobre Pasteur e vacinas, como um processo de “laboratorialização” da sociedade. A relevância e a acuidade dessa abordagem são confirmadas aqui, destacando todo o trabalho logístico, cognitivo, regulatorio e legislativo necessário para desenvolver alternativas microbiológicas aos insumos agrícolas químicos. Provavelmente estamos apenas no início desse processo de “laboratorialização”, mas a América Latina é, sem dúvida, um laboratório à sua maneira para essa transição tecnológica.
Referências
- Goulet, F., Fonteyne S., López-Ridaura S., Niederle P., Odjo S., Schneider S., Verhulst N., Van Loon J., 2024. The emergence of microbiological inputs and the challenging laboratorisation of agriculture. Lessons from Brazil and Mexico. Agriculture and Human Values,
- Goulet, F., 2023. On-Farm Agricultural Inputs and Changing Boundaries: Innovations around Production of Microorganisms in Brazil. Journal of Rural Studies, 101:103070,
Essa rede do dP PP-AL foi criada com base em uma rede de colaborações com foco em pesquisa, treinamento e liderança científica nas áreas de políticas agrícolas, ambientais e de desenvolvimento rural. Seu objetivo geral é analisar e comparar os processos pelos quais essas políticas são construídas e implementadas, bem como seu impacto em termos de desenvolvimento rural, combate à pobreza e redução das desigualdades na América Latina.
Website : Politiques publiques et développement rural en Amérique latine - PP-AL | Cirad